Sem se preocupar em estabelecer uma causa, a revista britânica ‘New Scientist’ arriscou descrever minuciosamente o eventual desaparecimento do Homem. Para concluir que, por exemplo, em cem mil anos a presença humana na Terra estaria reduzida a ruínas arqueológicas.
Mas as consequências da ausência do Homem na Terra começariam, contudo, muito antes, ou seja, imediatamente a seguir ao desaparecimento da espécie humana, com outras 15 mil espécies de animais, que hoje se encontram em vias de extinção, a conhecerem as portas da salvação. A partir daí as mudanças ocorreriam em catadupa.
Para imaginar o que seria da Terra 24 horas depois do adeus à raça humana, o exercício é simples. Basta que cada um de nós vista a pele de Tom Cruise no papel de David em ‘Vanilla Sky’ e depois tentar viver aquilo que o actor sentiu quando confrontado com uma Nova Iorque que nunca pára, sem pessoas, nem vozes, nem buzinadelas. O cenário é, no mínimo, estranho, mas não existe apenas nas fantasias do realizador do filme, Cameron Crowe. A Terra sem mão humana seria exactamente como o cineasta imaginou – sem poluição sonora. Quarenta e oito horas a seguir, as centrais eléctricas entravam em ‘blackout’, e as luzes sumiam-se, como a daquele semáforo para o qual David olha de esguelha enquanto espera e desespera por um sinal de vida.
As alterações seguiam-se ao fim de três meses com a diminuição da poluição atmosférica. Dez anos depois, dava-se o desaparecimento do metano da atmosfera. Após vinte anos, a natureza recuperava as estradas rurais e aldeias e, em 50 anos, os mares e oceanos seriam repovoados de peixes, enquanto os rios e lagos ficariam livres de nitratos e fosfatos. Em 100 anos, a vegetação tomaria conta das estradas urbanas e das cidades, inclusive das grandes metrópoles. E um século depois, seria de esperar o colapso de tudo quanto fossem estruturas de ferro e pontes.
O próximo milénio, ou seja a partir de 3007, ficaria marcado pelo desaparecimento da maioria das construções de pedra e tijolo, mas também pelo facto de a atmosfera voltar a reencontrar os níveis de dióxido de carbono existentes na época que antecedeu à revolução industrial.
Um salto no tempo e chegamos ao ano 52007, daqui a 50 mil anos, altura em que, na melhor das hipóteses, restariam apenas ruínas arqueológicas para testemunhar a passagem do Homem na Terra. Já os estragos devidos à mão da raça humana, esses demorariam um pouco mais a desaparecer: os resíduos químicos demorariam 200 mil anos e as escórias universais cerca de 2 milhões de anos.
A relativa rapidez com que a natureza tornava a florescer mal o Homem virasse costas é curiosa.
É caso para dizer que a natureza tem uma capacidade de resistência impressionante.
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